Zero Waste Design

Uma modelagem que não desperdiça nenhum centímetro de tecido.

Essa jaqueta já desfilou neste post sobre nossa participação no Clec Fashion Festival em Valencia, Espanha, neste ano. Lembra dela? Então você talvez va lembrar também que o design dela é zero waste e é neste conceito que vamos nos aprofundar.

Primeiro, o que é modelagem?

Se você pensa numa roupa vestida, ela é tridimensional, certo? A modelagem é a planificação desta roupa, que permite que ela seja construída e reproduzida.

Existem alguns métodos para fazer uma modelagem; partindo das medidas do corpo sempre, pode ser feita sobre um manequim (a moulage), ou diretamente no papel.

Tomemos uma camiseta como exemplo, ela é (geralmente) feita de partes - corpo frente, costas, mangas - que serão dispostas sobre o tecido para cortar, obedecendo o sentido do fio, e depois costuradas para formar a camiseta. Como essas partes não se encaixam perfeitamente, corta-las resulta em retalhos, resíduos que na maior parte das vezes não são aproveitados ou reciclados: vão direto pro lixo.

Dê uma olhada no encaixe do blazer acima: vê que restam algumas lacunas entre os moldes? A modelagem zero waste - ou zero resíduos - surge para solucionar este problema, evitando desde o princípio gerar estas lacunas.

Dois métodos

Por aqui conhecemos dois métodos de modelagem zero waste: o geo-cut e o planned chaos. O primeiro consiste em determinar a área do tecido que será utilizada e traçar formas e linhas que serão cortes, dobras, pregas no tecido, assim formando a peça de roupa. É o caso do vestido ao lado.

O planned chaos, utiliza bases de modelagem para orientar um grande quebra-cabeças onde cada parte vai encaixada na outra, aproveitando todos os espaços.

Esta técnica foi utilizada para desenvolver a jaqueta. O molde dela é este ao lado. As principais linhas dos moldes foram mantidas e as mais flexíveis, foram modificadas, cortadas, separadas.

R de Reduzir

Zero waste é uma técnica que, se não utilizada com consciência, pode levar a outro tipo de desperdício: o de metros de tecido. Sim, porque não é fácil encaixar partes, desenvolver um design bonito e funcional, sem a liberdade de traçar o molde como bem se deseja.

Muitas vezes, designers usam uma quantidade enorme de tecido pra chegar a estes resultados e então o conceito se perde: não se desperdiça em retalhos, mas em sobras de tecido que estão dentro de costuras e pregas.

É importante buscar utilizar uma quantidade razoável de tecido e inclusive minimiza-la. Esta jaqueta, por exemplo, consome apenas 90 centímetros de tecido. Quem está familiarizado com quantidades sabe que uma jaqueta costuma consumir no mínimo 1,20m de tecido.

E foi pelo conjunto da obra que recebemos o primeiro premio no concurso Project Zero Waste 2019 da Organic Cotton Colours, empresa espanhola produtora de tecidos 100% algodão orgânico certificado. O tecido utilizado é deles, um denim de algodão orgânico naturalmente colorido, cultivado no Brasil em agricultura familiar.

Por que o zero waste é tão pouco explorado?

Já da pra imaginar que é um processo complexo, certo? E que portanto leva tempo de pesquisa, experimentação. Tempo tão escasso na indústria rápida que temos, que é visto muitas vezes como desperdício. Além disso, é um processo que une o design e a modelagem, etapas que na indústria tradicional andam separadas, o que supõe uma mudança sistêmica.

Porém é justamente por otimizar o processo ao combinar duas etapas produtivas e por evitar o desperdício de matéria-prima, que deveria ser reconhecido também como vantagem econômica para as empresas, além da vantagem ambiental que representa.

E é realmente difícil. Mas não se pode deixar assustar: como tudo, o zero waste design é um exercício. E também uma meta: pode-se começar com menos, reduzindo o desperdício nos moldes por exemplo, otimizando os designs e os processos. Isso é low waste, ou baixo desperdicio: desenvolver produtos, serviços e processos para minimizar ao máximo as perdas: não apenas na modelagem e corte, mas desde o processo de design à embalagem final.

O que podemos melhorar? Como podemos reduzir? O que podemos otimizar?